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Artigos e opinião

Usinas hidrelétricas: a morte dos rios e do lazer público e gratuito em Iporá

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O município de Iporá, embora sendo um dos pólos da região oeste, possui em sua infra-estrutura urbana pouca possibilidade de acesso ao lazer gratuito à sua população. Esse é um fato comum nos municípios do interior goiano: o lazer está ligado à utilização dos bens naturais disponíveis, como rios, cachoeiras, morros e matas.
No entanto, esse tipo de lazer está com os seus dias contados em Iporá, devido à morte lenta dos rios pela instalação de Usinas Hidrelétricas. Essa expressão “morte lenta do rio” não é um ataque de “eco histeria” (irracional histeria diante das causas ecológicas), mas uma comprovação dos pescadores da região. Em certos pontos o peixe, literalmente, sumiu.
O alvo dessa vez é o Rio Claro, que perderá suas praias de belezas naturais em nome da obtenção de lucro por parte de apenas alguns. Isso mesmo, alguns! Pois, o que de fato a prefeitura de Iporá lucrou até agora com essas usinas? O que a sociedade Iporaense lucrou até o momento? Qual foi o impacto positivo para a região?
Nos discursos de nosso prefeito sempre há uma reclamação: como administrar uma família numerosa com salário mínimo? Demonstrando a real dificuldade do governo local em levantar verbas para gerir o município. Aí fica a primeira pergunta: O que os usineiros tem feito de real e concreto para a prefeitura?
Indo adiante, já se vê o desespero de populações que vivem às margens do Rio Claro há décadas e hoje, sem poder ser manifestar, estão sendo arrancadas de seu local. Digo isso porque as audiências que ocorreram até hoje serviram apenas para certificar aquilo que já está decidido. A pergunta do cidadão é apenas uma: o que vou ganhar com a perda de todas essas belezas naturais e do local que serviu de sobrevivência para mim e os meus antepassados?   
Friamente, a resposta até o momento é apenas uma: não ganhará nada! A não ser o desencadear de um processo depressivo motivado pelo brusco arrancar de suas raízes culturais. O seu local de vivência ficará perdido embaixo da água.
Para quem não passa por tal situação, entende isso como uma poesia melancólica. Mas, para o camponês que no dia a dia luta durante meses para juntar o dinheiro objetivando passar uma cerca no local. Ou ficou devendo durante dois, três ou mais anos a energia que veio com o programa “Luz para Todos” do governo Federal. Isso é jogar fora os sonhos, lutas e o suor deixado naquela localidade.
No plano científico, a Geografia já não pode mais chamar um local que tenha barragem de “rio”. Pois essa retira os processos naturais de vazão, inserindo artificialmente um novo tipo de “vazão controlada”. Essa, em determinado períodos chegam a quase secarem os rios e em outros transbordam de água; comprometendo o equilíbrio da vida aquática. Ou seja, a morte desse rio, embora lenta, é eminente!
Levando certos jargões – como: “Tá nervoso? Vá pescar” – perderem o seu sentido. Como pescar às margens de uma barragem que está vigiada 24 horas por dia, impedindo a entrada do cidadão? Como pescar rio abaixo, se o peixe sumiu de lá? É a isso que estou chamando de morte dos rios e do lazer público e gratuito em Iporá.
Por fim, é chegada a hora de refletirmos com calma sobre a situação. Convido a todos para acessarem o sítio do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) (http://www.mabnacional.org.br/). O MAB tem auxiliado muitos goianos a contornarem os prejuízos advindos pela construção de barragem, levantando protestos em nível nacional. O debate está aberto e é chegada a hora de dialogarmos, pois as construções de barragens estão em pleno vapor.


Prof. Doutorando Michel Rezende

Professor do Instituto Federal Goiano – Campus Iporá. Bacharel, Licenciado e Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutorando em Geografia pela Universidade de Brasília (UnB).

 

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