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Artigos e opinião

Indivíduos diferentes numa sociedade de iguais

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Um dos filmes em exibição nos cinemas é X-MEN: Primeira Classe. Tem como narrativa fílmica a origem do grupo de mutantes, na década de 1960 do século passado. Este grupo liderado pelo recente doutor em genética pela Universidade de Oxford, Xavier, vai iniciar sua saga na formação e no enfrentamento de um de seus maiores desafios: a convivência pacífica entre humanos (ou ditos normais) e os mutantes (humanos com “anomalias” genéticas).
Muitas são os elementos pelos quais nosso olhar e visão de mundo pode confluir na assistência do filme. Uma idéia primeira da qual posso destacar é como a sociedade totalitária do nazismo produziu uma ideologia dominante calcada na formação de indivíduos com características homogeinizantes, sem qualquer possibilidade, para manifestação ou expressão do diferente – o projeto era a constituição de uma sociedade de indivíduos arianos superiores em termos raciais e civilizacionais. Isso é visível no filme quando a personalidade de um dos mutantes mais poderosos, Magneto (mutante com poderes ligados ao magnetismo) é desenvolvida por um dos agentes nazistas nos campos de concentração – no ano de 1944.
Passados aproximadamente 20 anos e em plena Guerra Fria (conflito beligerante e ideológico entre duas superpotências – URSS e E.U.A), um pequeno grupo de mutantes liderados por Charles Xavier corroborá com a política de defesa norte-americana (CIA) com estudos e apoio para se compreender o fenômeno destes indivíduos socialmente diferenciados: os mutantes. O desafio do grupo de mutantes do agora denominado professor X (Xavier) tem duas tarefas fundamentais, evitar a guerra nuclear entre as superpotências, provocada, diga-se, de passagem por um dos mutantes antagonistas. Outra tarefa, essa mais árdua é atuação dos X-MEN em prol de uma política internacional de convivência entre os diferentes, humanos e mutantes.
A negação da alteridade cria mecanismos de defesa e de rejeição da humanidade por parte de alguns mutantes promovendo assim conflitos e cicatrizes cada vez enrijecidos pela tentativa autoritária dos humanos em desejar o ocultamento e extermínio destes seres “geneticamente modificados”. Que mensagens do filme poderiam indicar a todos/as nós que vivemos nessa sociedade planetária? Quais são as idéias presentes no roteiro do filme que servem de metáforas para nossas relações interpessoais?
Em uma sociedade como a brasileira muito temos ainda a refletir a idéia de aceitação e confronto a partir da elaboração do diferente, do outro, da alteridade. Mesmo com formulações acerca da “democracia racial”, da nossa cordialidade e de festejo de inúmeras expressões em torno da cultura, carecemos ainda do desvelamento de nossos preconceitos, dogmas e ortodoxias presentes numa moral que tem como função social justificar concepções de grupos ou classes dominantes. Vejamos o racismo, a homofobia e o sexismo como exemplos da nossa hipocrisia social em trazer para o debate público nossas fragilidades e insuficiências no trato dessas e outras determinações como fatores de desumanização e alienação social.
Coincidências com o filme não é mero fruto do acaso, mas uma tentativa de expor por meio da narrativa, dramas universais da condição humana. Nossas debilidades e contradições são expostas em meio aos interesses dos grupos privilegiados/dominantes da sociedade. Aos desprivilegiados resta à luta numa esfera de intensificar os valores de resistência e de consciência do grupo em sua situação de inferioridade social. Isso deve emitir um significado político com o qual devemos estar atentos/as. Mesmo numa sociedade altamente avançada do ponto de vista econômico e social os problemas sociais somente são devidamente enfrentados se eliminarmos os vestígios de segregação e massificação, muito presentes em sociedades cujos traços totalitários são fundamentos da organização e estrutura social.
Faço convite aos/as leitores/as da coluna: vejam o filme e reflitam sobre as nossas condicionantes sociais. Talvez precisamos nos redimir de alguns problemas reproduzidos com a nossa ajuda como indivíduos dessa mesma sociedade.

 

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