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Cultura

Trindade Capital da fé… e do amor

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Valdivino Pedro dos Santos

Carreiros começaram a chegar à capital da fé e se unem aos milhares de devotos vindos de várias cidades goianas e de outros Estados, que chegam a pé, de carro e de ônibus.
Valdivino Pedro dos Santos representava ontem a imagem do cansaço, da fé e da esperança. Durante quatro dias, ele viajou os mais de cem quilômetros que separam Petrolina de Goiás, onde mora, de Trindade, em um carro de boi para cumprir um ritual que considera sagrado. Assim como ele, centenas de pessoas, a maioria acompanhada de familiares e amigos, saem de suas casas no interior do Estado, percorrem longas distâncias para assistir e participar da Festa do Divino Pai Eterno.

Ontem, grupos de carreiros de vários municípios goianos tinham chegado a Trindade. Aos poucos, eles se unem aos milhares de devotos que vão à cidade a pé, em carros, ônibus e até em caminhões. Sozinhos e em grupos, os fiéis lotam as igrejas durante as missas e novenas, passeiam por entre as barracas que comercializam diversos tipos de mercadorias e frequentam os bares e lanchonetes.

Os levantamentos iniciais feitos pela Polícia Militar indicam que neste ano o número de participantes da Festa do Divino Pai Eterno deve superar significativamente a quantidade verificada no ano passado. Só nos três primeiros dias da romaria, conforme a PM, cerca de 250 mil pessoas tinham passado pela cidade, aproximadamente 100 mil a mais que no mesmo período de 2010. A comissão organizadora espera que neste ano o maior evento religioso do Estado reúna cerca de 2,5 milhões de pessoas, grande parte vinda de outros Estados.

Movimentação

Na tarde de ontem, era intensa a movimentação de pessoas nas igrejas e nas ruas da cidade. Diferentes motivos levam os fiéis de diversas localidades do País a Trindade. A aposenta Célia Cristina de Melo, de 59 anos, de Divinópolis (MG), diz que “realizou o sonho antigo” de participar da Festa do Divino Pai Eterno. Acompanhada do marido, Antônio José dos Santos, também aposentado, de 61, ela viajou cerca de 14 horas de carro para pedir e agradecer as graças recebidas e, ao mesmo tempo, visitar parentes que moram em Goiânia. Ontem, ela comemorava o fato de estar assistindo à missa no Santuário Basílica.

Determinação semelhante levou o feirante José Nelson, de 41, a percorrer a pé os 18 quilômetros entre Goiânia e Trindade. No início da noite, “com alguns calos no pé”, ele concluiu a caminhada, subindo os degraus do Santuário Basílica. “Senti vontade de vir para agradecer o fato de estar vivo e com saúde”, sublinhou, acentuando que considera a romaria de Trindade um “evento único, abençoado”.

Mudanças

Valdivino Santos, o carreiro que mora em Petrolina de Goiás, faz a viagem em carro de boi há 33 anos e, assegura, não pensa em parar tão cedo. “Esta é uma tradição em família que vem de geração em geração”, destaca. Ele conta que fez as primeiras peregrinações ainda menino, na companhia do avô. Hoje, conforme diz, dispensa qualquer tipo de condução para seguir com outros carreiros.

Mas nem tudo se mantém como antes. Valdivino diz que anos atrás passava os dias em barracas instaladas em áreas distantes da cidade. Hoje faz questão de alugar uma casa onde pode tomar banho quente e dormir em uma cama confortável. A viagem em carros de boi simboliza os primórdios da romaria, iniciada em Trindade há 171 anos. A devoção ao Divino Pai Eterno começou em 1870, quando o casal de lavradores Constantino e Ana Rosa achou em meio ao mato o medalhão de barro com a imagem da Santíssima Trindade. A notícia do episódio espalhou-se pelo antigo povoado de Barro Preto e, aos poucos, pelas cidades próximas. Moradores de outros municípios passaram a visitar o lugarejo para participar das missas e novenas.

Caravanas

O presidente da Associação dos Carreiros do Estado de Goiás, João Fortunato Machado, o João Coragem, estima que neste ano cerca de 500 carros de boi vão se dirigir a Trindade. Destes, aproximadamente 300 participarão do tradicional desfile previsto para acontecer na manhã de quinta-feira.

As caravanas, conforme diz, vêm de 28 municípios localizados em todas as regiões do Estado, com o objetivo de manifestar a devoção ao Divino pai Eterno e cultuar a tradição que se mantém há décadas.

“A viagem é muito difícil. Homens, mulheres, idosos e crianças enfrentam o frio, o sol, o sereno, as limitações de higienização e até mesmo a falta de alimentos com a intenção de manifestar a fé em Deus”, acentuou. Os grupos de carreiros, conforme diz, trafegam em média 20 quilômetros por dia. À noite, depois da dura jornada, fazem pouso em fazendas. Na manhã seguinte, retornam à estrada.

Além do Desfile dos Carros de boi, a Festa do Divino Pai Eterno terá outros atrativos. Ainda na quinta-feira, a partir das 20 horas, estão previstos shows com as duplas Rodolfo e Rodrigo e com os cantores Sérgio Reis e Renato Teixeira. Na sexta-feira, também a partir das 20 horas, acontece o show com o padre Fábio de Melo.

Centenário

Neste ano, a Romaria de Trindade marca o centenário da Igreja Matriz. O templo, de estilo arquitetônico colonial, tem, conforme os organizadores da festa, grande importância na história da devoção religiosa.

O antigo Santuário foi inaugurado no dia 8 de setembro de 1912, pelo missionário redentorista Padre Antão Jorge Heckembleikner. Naquela época, o religioso percebia que a fé no Divino Pai Eterno atraía populações de outras cidades e ganhava força a cada dia.

A Matriz, agraciada com o título de Patrimônio Histórico Estadual conferido pelo governo do Estado, foi restaurada para as comemorações do centenário.

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