Artigos e opinião
Qual é o verdadeiro valor da terra: História ou Hidrelétrica
Estamos vivenciando no estado de Goiás, mais precisamente na cidade de Iporá, o massacre dos sonhos e das vidas dos iporaenses, através da construção da Hidrelétrica Santo Antônio do Caiapó.
Em busca do progresso e da mundialização, muitos costumes, crenças e historias culturais são quebradas, sem o mínimo de compaixão possível com os proprietários de terras daquela região.
Ao inicio, tudo parece lindo, prometem evolução, empregabilidade, reconhecimento, melhoria na qualidade de vida, preservação do meio ambiente e valorização do solo. Mas basta um pedaço de papel assinado por “alguém maior” que já é suficiente para as máquinas avançarem e começarem ali a desapropriação de animais e famílias de seus “habitates naturais”.
A verdade é que quem está por trás de obras assim, nunca deram valor a um pequizeiro coberto de frutos ou um ipê coberto de flores, jamais ouviram o canto de um Jaó ou o belo grito de uma capivara pantaneira, mas eu como sertaneja que sou, dou-me o devido valor e respeito a tudo isso que nos foi dado sem cobrar nada em troca, apenas nós pediram para que cuidássemos de todo esse paraíso florestal, ao qual “tudo que se planta dá”.
Olhando daqui as construções a todo vapor, parece o início de um futuro promissor na tentativa de melhorar a vida de cada um que vive na querida Iporá.
Bom, basta pensarmos um pouquinho para ver que não são essas as reais intenções de uma obra dessa força, pois dá para sentir daqui o peso da ordem de desapropriação se alastrando sobre os agricultores do local, uns não tiveram forças e aceitaram as esmolas que foram “pagas” em troca de suas histórias, outros lutaram contra tudo e todos, mas se depararam com a fúria da Hidrelétrica gritando “saia, não há nada a fazer, eu tenho o poder e vou engolir você”, fato que fez com que estes parassem a beira do rio Caiapó e se despedissem de tamanha beleza e de toda sua história, mas há sim, ainda os resistente que lutam bravamente para impedir que tirem a força, o que lhe deu tanto suor e sonhos para adquirir, não sabem até onde vão, mas de uma coisa estão certos, o pequizeiro não dará frutos ali nunca mais e a beleza do Ipê será submersa juntamente com o ninho do Jaó, pelas águas frias e profundas da Hidrelétrica Santo Antônio do Caiapó.
Gostaria de reforçar á vocês, caros leitores, que além de tudo isso, após a construção da hidrelétrica , o emprego que por hora parece a salvação, se tornará desemprego, pois sabemos que é temporário e que ficara ai na obra, para administrar a mesma “os caras” de confiança e talvez não tenha nenhum Iporaense para contar que venceu nesta luta contra o meio ambiente e os agricultores. Outro fato que devo relatar é que nenhum pedaço de terra foi pago como de fato deveria, pois a principio parece um simples “pedaço de chão”, mas não é. Sabemos que as margens do rio Caiapó muitos amores se fizeram , criaram –se muitas famílias e para alguns é o único meio de sobrevivência, pois apenas sabem lidar com o solo (plantar, colher e etc).
Pensem vocês comigo: “Uma pessoa luta a vida toda para ter aquele pedaço de chão, trabalha, economiza e consegue o adquirir. Constroi-se uma casinha para viver com a família, seus momentos mais intensos. Tem-se naquele “chão” a vitória de quem veio de um nada e conseguiu adquirir um lugar como as margens do Caiapó para se viver. Passam-se os anos e vem alguém comunicar que pagará X valor naquele local para a construção de uma hidrelétrica, “os caras” nem perguntam o valor, ou se você concorda, simplesmente, vão abrindo a cerca, retirando o que pode e obrigando a evasão do local sem o mínimo de compaixão possível com quem fez dali o seu lugar de viver.”
Diante de tudo isso, espero que a população abram os olhos e abracem essa causa, pois a beleza que está diante dos olhos é imediata como a paixão e o que esperamos é um intenso e duradouro amor.
Sandra Silva é Iporaense e atualmente reside em Catalão, onde atua como professora.