Cultura
Projeto Tanque Cheio é apresentado à comunidade rural
Logo no inicio da reunião pode-se perceber nos olhares de esperança, a disposição dos produtores da Associação de Jacinópolis e do Buriti em melhorar sua qualidade de vida com a produção leiteira. Os dois encontros foram realizados nesta segunda-feira (6) e terça (7) nas próprias comunidades e serviu para traçar o perfil da realidade local a fim de embasar a formulação de um projeto e a busca por parcerias.
A Comissão de articulação formada pelos professores do IFGoiano e o vereador Valdeci Lima representante do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável,coletaram depoimentos e avaliaram a especificidade,bem como os pontos forte e os negativos de cada produtor em sua propriedade.
A comunidade de Jacinópolis se mantém por duas atividades econômicas: a lavoura comunitária que no seu primeiro ano foi mantida com recursos próprios, tendo em seguida recebido o apoio da Secretaria Municipal de Agricultura com insumos e a produção de leite que na maioria das fazendas mal custeia as despesas. O grupo possui 18 anos, os quais 10 anos, segundo os associados, foram perdidos pela falta de união, contudo nos últimos 2 anos o grupo voltou com força total, tanto é que foram escolhidos juntamente com a comunidade do Buriti para sediarem o projeto.
E é justamente na dificuldade com leite que o projeto une o conhecimento dos técnicos agropecuários e veterinários com o saber popular de cada um, objetivando a diminuição de custos na produção e obtenção de mais lucro no produto final.
Outro importante propósito do projeto é evitar ainda mais o êxodo rural comprovado no Censo de 2010. Na Zona Rural existem apenas 2.729 habitantes e destes a maioria são idosos homens e moram sozinhos, os filhos cansados de viver em condições adversas estão saindo da residência dos pais e lutando para sobreviver nas cidades.
O professor do IFGoiano Vanderlei Cardoso lembra também que os técnicos não chegaram mandando nas propriedades, mas apenas prestaram orientações.Os próximos passos após a elaboração do projeto e conquista de mais parceiros será a seleção de técnicos e o treinamento destes, acredita-se que o projeto terá inicio de fato no período da seca do ano de 2011.
O presidente da Associação Luiz Carlos de Melo desabafou contando aos presentes que sofreu muito nessa ultima fase, mesmo tentando complementar a renda com hortaliças o agricultor revela suas dificuldades, “eu alimentei minhas vacas 6 meses no cocho com ração concentrada, perdi inúmeros bezerros,não sei como fazer o manejo correto e nem o potencial das vacas para a produção, a minha propriedade não banca, se não melhorar o recurso não vai ser outro,a não ser voltar para a cidade.Se hoje todos nos estamos aqui é porque nos achamos no fundo do poço, precisamos de ajuda”,clama lembrando que as 17 vacas produzem apenas 80 litros de leite diários.
Quem tambem não agüenta mais essa situação é o Sr. Valdivino Gonçalves que imediatamente afirmou que seu maior problema são as terras degradadas que não oferecem capim para alimentar os animais, “nos só temos o conhecimento antigo e este não funciona mais, nos não sabemos tratar de nossas vacas para produzir, apesar delas não terem muita genética sei que podemos realizar e vencer como os produtores de Quirinópolis” e completa, ”estou disposto a trabalhar e a abrir minha propriedade para o progresso”.
É lógico que vislumbrando o avanço das famílias em Quirinópolis, os produtores locais estão ansiosos por começar a mudar, contudo é fundamental a conquista de parcerias, pois nesse primeiro momento serão elas que arcaram com os custos.O fato das associações tanto a do Buriti quanto a de Jacinópolis estarem organizadas e unidas para o trabalho por si só já é uma importante passo, pois bem se sabe o quanto é difícil manter tantas pessoas juntas entorno de uma causa em comum.
O que é interessante do Projeto Tanque Cheio é que ele acima de tudo investe no ser humano e no resgate e na valorização dos costumes, tais como as palavras o prosear de Guimarães Rosa, “Prosear é um jeito de falar. Fala sem objetivo definido, como o vôo dos urubus – indo ao sabor do vento. Palavras fluindo. Um jeito taoísta de ser. Para prosa não existe ‘ordem do dia’, não há conclusões, não há decisões. A prosa não quer chegar a nenhum lugar. A prosa encontra sua felicidade em prosear. Como andar de barco a vela em que o bom não é chegar, mas o ‘estar indo’. ‘A coisa não está nem na partida nem na chegada, mas na travessia’.”
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