Artigos e opinião
O adeus a quem tanto amei
Essa senhora manteve seu casamento até o fim sem traição. São inúmeros os apaixonados pelo Brasil que tem muitas histórias para contar e tiveram suas famílias sustentadas pela labuta em uma kombi. É certo que o Brasil é o último mercado do mundo a produzir a Kombi (atualmente, algumas poucas unidades são importadas para a Holanda como motorhomes. Entretanto urge ressaltar, que a decisão da Volkswagen de interromper a produção da Kombi foi tomada justamente porque o veículo não cumprirá as regulamentações de segurança que devem entrar em vigor no primeiro dia de 2014 – e que incluem preponderantemente, a exigência de que os carros saiam da fábrica com duplo airbag e freio ABS (sistema que evita a derrapagem das rodas durante a frenagem em pistas escorregadias).Se considerássemos o desenho atual, apesar do grande conforto diferenciado para o ato de dirigir e visão da pista de rolamento, os airbags seriam inflados para cima, tornando ineficaz o funcionamento dos mesmos.
Last Edition. “Última Edição”. Será com esse sobrenome que a Volkswagen Kombi se despedirá do mercado brasileiro após mais de 5 décadas. Alguns sentirão saudades principalmente deste motor 1.4 Total Flex, que rende 80 cavalos com etanol. Entretanto para levar pra casa essa versão bastante especial, os consumidores interessados terão que arcar com R$ 85 mil, quase o dobro do preço base do utilitário, em torno de R$ 47.000 e que vai abrir uma lacuna porque não se apresenta atualmente algo no mesmo nível de confiança e com este valor. Baixa manutenção e peças com preços acessíveis ficarão na memória, até porque neste dia 19 próximo passado,um pouquinho depois do almoço, por volta das 13:00h, a última Kombi saiu da linha de montagem na fábrica da Volkswagen na rodovia Anchieta, São Bernardo do Campo,interior de São Paulo.
Imagino até que a última unidade provavelmente irá para o museu da montadora na Alemanha. Despedida digna depois de mais de 1,5 milhão de unidades produzidas, 63 anos de mercado brasileiro, 60 anos de montagem no país e 57 anos de produção seriada. Históricamente ela foi o primeiro veículo produzido pela Volkswagem no Brasil, antes mesmo do não menos famoso Fusca. Foi idealizada pelo holandês Ben Pon na década de 1940, que projetou a combinação do Volkswagen Sedan em um veículo de carga leve. Lançada na Alemanha em 1950, o modelo era equipado com motor 4 cilindros 1.200 com refrigeração a ar que dava a garantia de curiosidade é que a última kombi tem o final do seu chassi EP022526. Pra quem gosta de história fica claro perceber que os trabalhadores das fábricas brasileiras construíram não só suas vidas ao produzirem a Kombi, mas também as de milhares de outros brasileiros, que graças às características exclusivas deste automóvel resistente e evidentemente feito para trabalhar, reuniram seus esforços, suas ambições,seus sonhos e seus talentos para abrirem negócios ou prestarem serviços que ajudaram a erguer esse rincão, onde apenas a clássica “perua” tinha condições de oferecer um custo-benefício que não havia nos concorrentes.
Pra quem gosta de curiosidade,o nome Kombi é uma abreviação, adotada no Brasil, para o termo em alemão Kombinationsfahrzeug, que em português significa “veículo combinado”. Mas não combinaram que ela não iria deixar saudades. Enfim, neste natal ela nos deixa sem ver um rival que a tenha sobrepujado. Não houve traições…só amores. Desde as crianças em idade escolar até o adulto em trabalhos de feiras livre. Destarte parece-me ser esta a última de uma geração de automotores que o Brasil jamais esquecerá, por tudo que ela representa para as famílias brasileiras.
Rosildo Barcellos
*Articulista