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Cultura

Movimento levanta bandeira em favor do meio ambiente em São Luís

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Motivado pelo tema da Campanha da Fraternidade desse ano, da Igreja Católica, que tem como lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22), o Bispo da Diocese de São Luís de Montes Belos, Dom Carmelo Scampa, promoveu uma reunião no último dia 6, com a sociedade organizada do município para juntos levantarem uma bandeira em defesa do respeito ao meio ambiente “em todos os aspectos”.
A reunião aconteceu no Salão Paroquial, no centro da cidade, e contou com a participação de várias pessoas representando vários segmentos da sociedade. Os problemas mais sérios, levantados pelo grupo, foram: a questão do abastecimento de água na cidade, a devastação desordenada da base dos montes belos (serra), com a criação loteamentos e outras coisas como a transferência do Fórum, também para o pé da serra. 
A maioria dos participantes concordou com a preocupação de Dom Carmelo. Com exceção do empresário Zezé da Construtora, o qual fez a venda por R$ 240 mil do terreno para a prefeitura fazer a doação para o Tribunal de Justiça transferir o Fórum da Comarca. Tirar do centro da cidade e coloca-lo no pé da serra. Para ele não há nenhum problema. O Bispo Dom Carmelo recebeu esta reportagem, no dia 8, e falou sobre o assunto. Confira!

Edivaldo: Dom Carmelo, a Paróquia de São Luís Gonzaga iniciou em São Luís uma campanha baseada no tema da Campanha da Fraternidade desse ano, que é relacionada à questão do meio ambiente. Porque essa iniciativa Dom Carmelo?

Bispo: Trata-se de um tema proposto em nível nacional. O tema da Campanha da Fraternidade que é uma iniciativa da Igreja Católica há mais de 40 anos, que visa sensibilizar sobre problemas comuns a sociedade e, portanto, comprometer a Igreja. O tema deste ano é Fraternidade e a Vida no Planeta, cujo lema é: “A criação geme em dores de parto”. Uma citação da carta de Paulo, aos romanos e este tema é muito abrangente e vai da problemática desafiadora do aquecimento global, o problema da água, da energia e tudo aquilo que para criá-la possa agredir o meio ambiente. Temos também o problema da agricultura, que corresponde a determinados projetos mais de lucro do que de respeito à natureza. Portanto à luz do tema da Campanha da Fraternidade achamos por bem convocar a sociedade, afinal não é um problema de Igreja é um problema de toda comunidade refletir sobre o assunto para ver em nível local o que de fato constitui agressão a natureza e evidenciar para podermos modificar. A reunião que fizemos quarta-feira passada foi muito positiva e levantou alguns itens que, segundo a maioria, no município de São Luís precisam de atenção. Por exemplo: o lixão que queira ou não diz respeito a vida no planeta, levantamos também a questão da água, nascentes desaparecendo inclusive foi feita toda uma documentação pelo Dr. José Francisco sobre as nascentes desaparecidas, erosões, entre outros. Levantamos problemas de encostas, construções em lugares impróprios, problemas da urbanização que não correspondem a princípios corretos, praças, verde, e todos esses problemas levantados receberão muita atenção por parte de todos. Agora não é Igreja Católica que está encabeçando determinados assuntos, é um movimento popular e não da Igreja, nós somos parte de uma sociedade onde existe de tudo. Portanto não é o movimento popular uma proposta da Igreja Católica, nós podemos apoiar, mas deixando toda liberdade de ação e escolha ao cidadão.

Edivaldo: Em se tratando de problemas que mobilizam toda a população a Igreja Católica não pode se furtar de apoiar esse movimento, não é Bispo?

Bispo: Pois então, é por isso que nós participamos e nos tornamos presentes, mas não podemos como autoridade moral da Igreja querer obrigar as pessoas a fazerem aquilo que não sentem vontade de fazer. Isso não é problema de Fé, isso não é problema ético, moral, no sentido específico, onde a palavra da Igreja deve ser clara e bem orientativa. Aqui é uma realidade que muitos julgam que necessita ser revista, então a Igreja apóia todas as causas sociais mais deixando a liberdade de escolha a cada pessoa, não posso impor como Bispo que se faça isso ou aquilo, se for no campo da moral, da doutrina, aí sim eu tenho uma responsabilidade moral e específica. Agora no campo de opiniões que podem dividir a sociedade nós somos uma opinião como as outras.

Edivaldo: Nos últimos anos Dom Carmelo, tem acontecido em São Luís várias ações que no final acabam violentando tragicamente a natureza, como a autorização do poder público de vários loteamentos sem respeitar o meio ambiente, loteamentos esses que veem causando transtornos à nossa serra. E agora, mais uma vez uma dessas ações visa à transferência do Fórum de São Luís para o pé da serra. O senhor não acha que o que faltou foi uma mobilização da sociedade para impedir que ações dessa natureza pudessem ser tomadas pelo poder público, na época?

Bispo: Pode ter sido, mas não cabe a Igreja Católica ser cabeça de posições políticas, econômicas e sociais unilaterais. Agora podemos conclamar para refletir, discutir, e ter toda liberdade de opinar e até de forçar e mais do que isso, nós não podemos fazer, estamos em uma sociedade democrática, a Igreja com o papel de iluminar com princípios éticos, morais que visam o bem comum, mas as últimas decisões não cabem a Igreja seja Católica ou qualquer outra, a nós cabe ajudar nas reflexões e avaliações das pessoas e poder público para que escolham de fato o que constitui o bem de todos. Não cabe a um bispo determinar que as pessoas façam aquilo que eu quero, seria abuso de poder, nós fomos chamados em nome da Campanha da Fraternidade a refletir sobre os assuntos e encontrar soluções para o bem comum.

Edivaldo: Nessa primeira reunião vocês discutiram os problemas e chegaram à conclusão que em São Luís existem vários pontos que precisam de uma atitude no sentido de recuperar as perdas que a natureza sofreu. Quais serão os próximos passos daqui para frente Dom Carmelo, no sentido de buscar a solução para esses problemas?

Bispo: Foi uma reunião muito descontraída sem a finalidade de julgar ninguém, mas de ver as situações, de realidades, de ver pontos de vista diferentes. Daqui para frente nós gostaríamos de construir um grupo de reflexão sobre os vários problemas e de sugerir aos poderes públicos que tenha a responsabilidade das últimas decisões, de avaliar e respeitar. Portanto o grupo escolheu na próxima reunião refletir sobre o problema da água, das nascentes e das políticas que podem levar a extinção dessa riqueza fundamental para a vida e a própria natureza. Nós somos apenas um grupo de reflexão e oferecemos sugestões para quem vai depois decidir e concluir. A Igreja e os movimentos populares são instrumentos de ajuda para que considerando vários ângulos dos problemas nós possamos dentro das decisões políticas, escolher o melhor para o bem de todos, queremos apenas exercer cidadania porque não somos a câmara dos vereadores, não somos partidos políticos, somos um grupo de cidadãos prontos a refletir e fazer da questão, a mais séria possível.

Edivaldo: Dom Carmelo, especificamente sobre a questão do Fórum agente tem conhecimento que boa parte da população não aprova essa mudança em função da distância. E paralelamente a isso a classe dos advogados que militam junto ao poder judiciário e a população como um todo, ninguém foi consultado, além do problema social que é a questão da distância do local existe também a questão do meio ambiente, haja vista que o local é bem anexado a serra e para isso foi feito um trabalho de terraplanagem e com isso foi deformada, em parte, a base da serra naquele ponto. Qual seu ponto de vista em relação à questão do Fórum?

Bispo: Eu acho que não cabe ao Bispo, nem a Diocese opinar sobre isso no sentido político, mas cabe a sociedade refletir e apresentar razões documentadas, viáveis sobre a oportunidade ou não da realização da obra.

Edivaldo: Em relação ao grupo, qual o ponto de vista dele sobre essa questão do Fórum?

Bispo: No próprio grupo a quem sustente uma tese e quem sustente uma tese contrária, eu não tenho elementos suficientes e claros para avaliar e opinar de uma forma objetiva, responsável em todos os aspectos. Porque em determinadas posições prevalece o aspecto político. Agora, seja a sociedade fazendo uso dos seus conhecimentos, sensibilidade moral e visando o bem comum, colocar em discussão e abraçar propostas nesse sentido. Há, muitas vezes, visões políticas interesseiras que podem levar o assunto muito longe e ingenuamente. A Igreja não deve e nem pode entrar em situação que não são tão evidentes, portanto eu digo: Que o movimento popular assuma com autoridade própria, com motivações próprias, com argumentos próprios a sua bandeira e a leve para frente. A Igreja não vai colocar vetos e nem empecilhos porque não cabe á nós fazer isso, mas apóia tudo aquilo que pode contribuir para o bem comum. Por que, se entramos no assunto político ou criamos posição e oposição vamos longe demais e os argumentos que poderiam nos ajudar a refletir só nos distanciam e criam polêmicas que podem se tornar irreparáveis dentro da Igreja, e isso eu não quero. Nas opiniões prevalece o que dizia Santo Agostinho: Em tudo deve haver a caridade, na dúvida a liberdade.

Edivaldo: Como o senhor vê o papel da imprensa nessas questões sociais, Bispo?

Bispo: Os meios de comunicação têm que ser um veículo de amadurecimento das opiniões e das posições, não tomando já decisões em nome do leitor, em nome do ouvinte, mas oferecendo sugestões para que o ouvinte ou leitor forme a sua própria opinião. Portanto o papel da imprensa é de amadurecer consciências e oferecer as ferramentas para que cheguem a dizer: é por aqui, ou é por lá e não impor a própria opinião, porque aí é ditadura. Eu não posso forçar o ouvinte ou leitor a aceitar de acordo com a minha opinião o que é bom e o que não é bom.

Edivaldo: O senhor avalia como positivo o resultado dessa primeira reunião?

Bispo: Eu achei muito positiva no sentido que houve liberdade de expressão, houve colocações maduras, de pessoas que conhecem o assunto e podem ajudar muito no desenvolvimento dos problemas. Nós não podemos agora resumir tudo ao Fórum, isso é um detalhe e se alguém está querendo usar a Igreja para levar para frente problemas particulares é problema dessa pessoa, porque a finalidade da Igreja é refletir na sua abrangência mais ampla tudo que se refere à vida no planeta, que naturalmente reflete aqui na cidade e encontrar soluções para fazer o que estiver ao nosso alcance. Engrandecer os detalhes como foi no caso do Fórum, acredito que não seja correto e não é opinião de Igreja, cada um faça a sua parte dialogue com as autoridades do município, poder público, judiciário, faça o que deve ser feito, mas assuma as suas responsabilidades. E em momento algum coloque a Igreja em maus lençóis, porque isso eu não aceito. Têm católicos que pensam de um jeito e católicos que pensam de outro jeito, a Igreja é um guarda-chuva que acolhe todos e oferece as ferramentas para uma reflexão.

Edivaldo: Dom Carmelo no bojo dos problemas existentes em São Luís, o senhor poderia afirmar que o mais sério é a questão da água?

Bispo: O pessoal levantou o problema da água como um problema prioritário e o slide do Dr. José Francisco, que é competente nessa área, convenceu o povo que vale a pena sentar e refletir de uma forma mais científica e objetiva sobre esse assunto. De fato alguns córregos estão morrendo, outros desapareceram. Agora, o Bispo não é competente nessas histórias, o Bispo tem que se manter atento ao que o povo percebe e vê, e apoiar assuntos que especificam o bem comum.

Edivaldo: Dom Carmelo, o senhor exclui a bandeira política desse movimento, mas no final dos trabalhos vai haver o confronto esse segmento, haja vista que é desse segmento político que poderá vir à solução dos problemas, ou não?

Bispo: Se os confrontos acontecerem será de uma forma democrática e respeitosa, de quem o povo escolheu para conduzir os problemas políticos. Portanto, é necessário clareza, pois democracia significa respeito também das opiniões diferentes e respeito das autoridades que nós mesmos escolhemos, a menos que elas caminhem na contramão, no desrespeito daquilo que o povo havia pedido e sonhado. Confronto de idéias é bom, afinal ninguém pensa como o outro, existe sempre detalhes diferentes, isso será bom que aconteça, mas com espírito de pessoas civilizadas e de pessoas que querem o bem comum. E se tem coisas para denunciar levem as autoridades competentes para isso, para julgar e resolver os problemas, mas isso não é tarefa da Igreja Católica.

Edivaldo: Tem alguma coisa a mais que o senhor gostaria de passar a respeito do trabalho desse grupo daqui para frente, como vai ser?

Bispo: Nós tentamos aproveitar o tema da Campanha da Fraternidade deste ano no país, que faz referência ao meio ambiente, mas não é tarefa da Igreja como Instituição querer dominar ou manipular quem quer que seja. As opiniões são diferentes, também na nossa reunião, mas de uma forma civilizada, madura para que nós possamos nos confrontar e encontrar a solução que melhor for para todos.

Por: Edvaldo Oliveira

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