Goiás
Goianira teve 60% dos PMs presos em operação: ‘faroeste’
A pequena Goianira, cidade a 20 quilômetros de Goiânia, teve mais de 60% dos policiais militares presos durante a operação Dilúvio, realizada pela Polícia Civil de Goiás na madrugada de quinta-feira (9). Um dia após a ação, um morador relatou que o medo dominava a cidade: “O sentimento aqui era de um verdadeiro faroeste”.
Para o morador, a única surpresa foi a quantidade de prisões. Dos 18 PMs presos na região de Goianira, 11 trabalhavam no único pelotão da cidade e um é militar da reserva. Eles são suspeitos dos crimes de homicídio, tráfico de drogas, extorsão e formação de quadrilha.
O morador conta que se sentia nas mãos dos bandidos. “Muitas vezes, um cara com salário de polícia tem um patrimônio gigantesco. Ninguém sabia de onde vinha”, denuncia. Ele espera que os crimes na cidade sejam esclarecidos.
A ação foi resultado de uma investigação que apura crimes cometidos há 15 anos na região de Goianira.O comando da PM disse que tinha conhecimento das denúncias.
“Nós estamos cortando na própria carne. Não temos nenhuma dificuldade de tirar do nosso meio essas pessoas que desvirtuam. Mas precisa ser provado e ser dado o direito de ampla defesa”, disse o coronel Sílvio Benedito Torres, comandante-geral da corporação.
Com mais da metade do efetivo preso, a PM de Goianira precisou de reforços de outras cidades. Nove policiais de Anápolis e oito de cidades vizinhas substituem os presos que estavam na ativa.
“Vão permanecer no mínimo por 30 dias, até que se apure os fatos. Se perdurar a prisão, nós vamos fazer gestão junto ao comando para suprir definitivamente o efetivo que for afastado”, informou o coronel Juverson Augusto de Oliveira, comandante regional de Anápolis.
Para o funcionário público Vitor Jorge da Silva, o momento é preocupante. “Onde você espera proteção, você se depara com uma situação dessas é custoso. Segurança, não tem”, reclama.
Delegado
As suspeitas atingiram também a Polícia Civil da cidade. O delegado da cidade, Raulph de Melo Gonzaga, está afastado temporariamente. Há suspeita que ele não investigava os crimes cometidos pelos militares. Raulph de Melo rebate as críticas e diz que as investigações não caminhavam por falta de estrutura.
A delegacia funciona numa casa adaptada. Três agentes e um escrivão continuam trabalhando normalmente, enquanto uma auditoria apura se houve mesmo falha nas investigações.
“Apurar inquéritos com três policiais, não temos capacidade. Ainda mais inquéritos desse porte, de homicídio envolvendo policiais. O nosso carro está parado. O aluguel do prédio está caminhando para cinco meses [sem pagamento], daqui um pouquinho vão me despejar daqui. Omissão, eu acho que não é minha não. Omissão eu acho que é do poder público, é da direção da Polícia Civil”, justificou o delegado.
Sobre as críticas feitas pelo delegado Rauph de Melo, a diretoria da Polícia Civil preferiu não se manifestar. Disse apenas que investigar é função de qualquer delegacia.