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Festival leva caos a Caldas Novas
Cenas de sexo explícito em via pública. Música regada a muitas drogas e a bebida alcoólica. Algazarra e muito vandalismo. Esse é um retrato do movimento ocorrido, em Caldas Novas, no último fim de semana durante a sétima edição do Caldas Country Show, um dos maiores eventos musicais da cidade na Região Sul do Estado. A desordem na cidade ganhou repercussão, ontem, nas redes sociais, após o término dos shows.
O evento foi realizado no espaço Caldas Park Show, na Avenida Santo Amaro, e contou com a presença de 50 mil pessoas por dia, de acordo com o produtor geral Cristiano Martins. Foram dois dias de muita badalação – sexta-feira e sábado – suficientes para gerar dor de cabeça nos moradores do município.
De acordo com Cristiano, o Caldas Country Show atrai um público muito grande para a cidade e nem todas as pessoas vão para participar do evento. “Muita gente vai para lotar as ruas e fazer algazarra”, alega.
As fotos divulgadas pela internet mostram casais mantendo relações sexuais em cima de carros estacionados e pessoas feridas a tiros. Em outra imagem, um grupo de foliões dança em cima de uma cabine da Polícia Turística. Outro flagrante é de um carro sendo incendiado por um grupo de rapazes.
Nem uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) conseguiu escapar das pessoas que fizeram a bagunça. A coordenadora de Enfermagem de uma equipe do Samu, Flávia Sena, conta que, no sábado à tarde, três jovens bêbados subiram numa ambulância que foi atender a uma ocorrência, no Setor dos Turistas. Ela diz que os médicos pararam o carro do Samu numa rua e, devido ao grande congestionamento na região, tiveram de seguir a pé para prestar socorro a um homem que passava mal por ter consumido muita bebida alcoólica.
Quando ela voltou com os médicos, viu a turma pulando em cima da ambulância, enquanto outros bêbados tiravam fotos dentro do espaço reservado para transporte de pacientes. “O pessoal estava drogado, tirando foto. Todo mundo estava muito embriagado”, afirma.
Moradora de Caldas Novas, a professora aposentada Mariza Neri relatou o cenário caótico que tomou conta da cidade: “Foi uma loucura, ficamos encurralados em casa. O som alto não deixou ninguém dormir. Ano passado já havia sido complicado e, desta vez, foi mil vezes pior. A baderna foi generalizada. A Lei Seca foi completamente ignorada. As pessoas bebiam e dirigiam livremente. O comércio teve que fechar as portas”, lamenta.
O radialista e vereador Antônio Marcos relata que, ao contrário das edições anteriores, a cidade não se preparou para receber o grande público neste ano. “Observamos que faltou fiscalização, muitas pessoas estavam andando em cima dos veículos, sentadas nas portas. Houve muvuca generalizada”, pontua.
A violência também tomou conta do município. Subcomandante do 26º Batalhão de Caldas Novas, o capitão Wellington Monteiro diz que a polícia registrou duas ocorrências de homicídios somente no sábado. Rui Seixas Ferreira Cândida, 27 anos, foi assassinado a tiros, por volta das 2 horas, na presença de várias pessoas. Ele teria sido vítima de um acerto de contas. Outra mulher foi assassinada com dois tiros na cabeça, por volta das 21 horas.
O produtor geral do Caldas Country – organizado pela empresa JFC Promoções e Eventos Ltda. – diz que “a onda de bagunça na cidade não ocorreu dentro do espaço do evento.” Afirmou ter pago R$ 65 mil para a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSPJ) para o reforço do policiamento na região. A pasta não confirmou o recebimento. Sua assessoria de imprensa alegou que somente a Polícia Militar poderia dizer se recebeu, ou não, o valor.
Apesar de não saber precisar o valor repassado para o reforço da segurança durante o evento, o comandante Wellington Monteiro diz que 160 homens da PM trabalharam nos dois dias do Caldas Country Show, para garantir a segurança. Outros 90 policiais atuaram nas regiões mais afastadas da cidade, acrescenta. Ele também conta que não pôde conter “os excessos que ganharam repercussão na internet, porque a polícia não estava presente no momento.” Conforme relatado, mais de 120 carros foram apreendidos, principalmente por estacionar em local indevido. A reportagem tentou contato com o prefeito Ney Viturino e os secretários de Turismo, Ivan Garcia, e de Comunicação Wilhes Alves, mas não obteve retorno às ligações.