Educação
Encontro de Geografia convida a população a resgatar a cultura
O XII Encontro de Geografia Mostra Sua Cara, ocorrido entre os dias 15, 16, 17 e 18 de Setembro, cujo tema foi “Ensino, Educação e Cultura: vivências e saberes dos lugares”, ensejou reflexões sobre a necessidade da valorização da cultura dos lugares, nos mais diversos modos de manifestações, como campo prático dos saberes. Ele também envolveu temas pertinentes à realidade contemporânea do ensino de geografia nos espaços escolares (urbano e rural), e a influência da universidade no sucesso ou fracasso escolar, durante o processo de formação dos futuros professores.
O domínio do(s) conhecimento(s) debatido na conferência de abertura, na mesa redonda, nas oficinas, no espaço de vivência, na palestra e na audiência pública buscou redirecionar o olhar dos participantes à crítica da efemeridade nas relações humanas e no excesso de informações simultâneas, oriundos do processo da globalização-fragmentação que, há tempos, compõem a dinâmica da sociedade contemporânea e interfere no sentimento de pertença dos indivíduos aos lugares.
Valorizamos nesse encontro a ação de entidades e grupos populares que reanimam a essência da identidade iporaense e região. As parcerias com entidades culturais, como a OCA – Organização Cultural e Artística de Iporá, do vice-presidente do Fórum de Culturas Populares e Tradicionais de Goiás – Adeli Melo, a participação do artesão José Elizon e das representantes da Comunidade Buriti com o Artesanato Sonho Meu, os artistas plásticos, os Grupos de Folias de Reis, os cantores, os dançarinos populares, os capoeiristas e professores das Universidades Federal e Estadual de Goiás foram a espinha dorsal desta discussão acadêmica, que não pretendeu ficar apenas no debate. Pretendíamos, sim, nos juntarmos a estes representantes da sociedade na busca de políticas públicas voltadas às manifestações culturais e que influenciam na manutenção da identidade regional. Assim, foi que decidimos pela realização da audiência pública na noite do dia 17, na Câmara dos Vereadores, para discutir a necessidade de criação de um fundo municipal para cultura, a implantação do Conselho Municipal de Cultura e o desmembramento da Secretaria Municipal da Educação, Cultura , Desporto e Lazer. A partir de 2011 somente os municípios que tiverem estes espaços receberão verbas do Plano Nacional de Cultura.
Finalizamos as atividades do evento com um trabalho de campo na Comunidade Taquari, onde os representantes da economia solidária puderam compartilhar suas experiências produtivas, seus saberes populares e seu posicionamento político-ideológico com os visitantes. A partir de um olhar geográfico crítico-reflexivo o trabalho de campo foi o momento de aliar “Teoria e Prática” em Geografia, buscando valorizar o conhecimento do camponês como ferramenta de trabalho e de melhor qualidade de vida.
Podemos dizer que conseguimos despertar na sociedade civil valores sobre o patrimônio material e imaterial dispersos pelos municípios da região de influência da UEG-Iporá. “Desta forma é que a mobilização de diferentes atores sociais como movimentos, sindicatos, associações de classes, Universidades, ONGs, atua hoje não apenas no sentido de reivindicar, mas principalmente de propor, elaborar e acompanhar a implantação de políticas públicas.(FRACARO, 2009)”.
Esperamos agora que o resultado não fique apenas na história dos eventos acadêmicos da UEG de Iporá. É necessário continuarmos a reunir forças e interesses comuns para que a cultura local seja valorizada. Que o poder público do município de Iporá seja, quem sabe, aquele que dará o ponta-pé inicial para a construção de políticas públicas culturais nesse extremo oeste do estado de Goiás. Para Eagleton (2005) a idéia de cultura deve ser reconhecida como algo pelo qual vivemos. A cultura assim não é algo burocratizado ou parte de um sistema que apenas define o seu conceito e a distância de sua matriz. O Afeto, relacionamento, memória, parentesco, lugar, comunidade, satisfação emocional, prazer intelectual estão próximos de nós. Basta agora não fazermos desses elementos, amplamente debatidos durante o encontro, um conjunto de palavras e intenções perdidas no tempo e na memória dos participantes.
Texto de: MsC. Paula Junqueira da Silva (Professora do Curso de Geografia da UEG-Iporá, coordenadora o XII Encontro de Geografia)
Referências:
EAGLETON, Terry. A idéia de cultura. São Paulo: Editora UNESP, 2005. 204 p.
FRACARO, Marcelo Dino. Políticas Públicas para cultura – direito, não privilégio. MinC: (mimeo). 2009.
{jcomments on}