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Educação

Bebê morre em São Luís após esperar cerca de 3 horas por atendimento

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No início da manhã da última sexta-feira, 4, a dona de casa Eliane Borges, avó da garotinha Elóíse Vitória Fernandes, de apenas dez dias de vida, em desespero, não sabia mais a quem recorrer para salvar a vida do bebê, que sangrava muito pelo umbigo. Ela conta que acionou o Samu por volta de 6:30hs e só conseguiu atendimento médico faltando 15 a 20 minutos para as 9:00hs horas. Ou seja, quase três horas depois.
Elóise foi atendida por dois médicos, na emergência do Hospital, e após um rápido avaliamento a criança foi encaminhada para o Hospital Materno Infantil, em Goiânia. Uma médica que ajudou no atendimento disse que o estado de saúde do bebê era grave. Após ser internada, Elóise veio a óbito ainda na noite daquele mesmo dia.
Sob um clima de muita dor e revolta, o corpo do bebê foi velado na residência da bisavó, no dia seguinte. A mãe da criança, Betânia Rosa Fernandes, 32, (foto), teve que ser sedada para suportar a dor da perda da filha. Até hoje, ainda sob o efeito de medicamentos, ela se emociona ao falar da filha.
Na segunda-feira, dia 7, a família deu mais detalhes sobre a permanência da criança em Goiânia. Segundo a avó, um médico havia dito que não pôde fazer mais porque o sangue do bebê já havia se esgotado quase todo, o que reforça a opinião de Eliane que o socorro à criança teria sido demorado.
A mãe do bebê conta que os problemas começaram no parto. Betânia relata que a médica Ana Patrícia, que fez o procedimento, havia deixado um dreno na sua barriga para facilitar a saída de líquido e sangue que ficaram no local, mas que no momento da retirada do referido dreno, a médica, sem querer, partiu o objeto ao meio, deixando uma parte no interior da sua barriga.
Betânia conta ainda que alguns dias depois, ela foi submetida a uma ultrassonografia, feita pela médica, para localizar o pedaço do dreno. E que, em seguida, ela teve que fazer outro exame numa clínica particular, foi quando o dreno foi localizado. “Passei o final de semana sentindo muitas dores”, conta a mãe, em lágrimas.
No final da manhã de ontem, 8, a diretora do Hospital Municipal, Cristiane Pereira, e a médica Ana Patrícia, que também é diretora técnica daquela unidade, estiveram na redação do Jornal A Voz do Povo e deram a versão delas sobre o caso. De início, Cristiane fez questão de discordar do tempo de espera pelo atendimento, relatado pela família.
De acordo com documentos do Samu, Cristiane mostra que a criança chegou ao Hospital às 7h17, e em seguida, por volta de 7h38 ela já estaria sendo atendida pelo médico identificado por Dr. Marcos. No entanto, a diretora apresenta outro documento, também do Samu, atestando que a criança saiu para Goiânia por volta de 8h48. Uma hora e meia, depois da sua chegada, segundo ela, e não quase três horas como afirma a família.
Quanto às possíveis causas da morte da criança, a médica Ana Patrícia conta que o Hospital Materno Infantil, que atendeu a paciente, havia passado a informação que a causa da morte da criança ainda era indeterminada, mas que a primeira suspeita seria uma disfunção de coagulação de sangue. E que posteriormente novos exames seriam realizados para definir a causa real do óbito. Segundo a certidão óbito, a causa da morte ainda é indeterminada. De acordo com a família, em 15 dias um laudo com a causa definitiva será entregue à família.
Ana Patrícia conta também que a mãe do bebê era uma paciente com várias complicações. “Ela chegou ao Hospital com dor abdominal, hipertensão e nos outros partos dela, também teve problemas com hipertensão, ela foi pra UTI, em Goiânia, ficou lá vários dias. É complicado o caso dela. Ela chegou lá com a pressão 18/12. Fiz um exame nela, já tinha uma infecção urinária grave, que provavelmente estava provocando a dor abdominal. Foi dado um antibiótico para tentar melhorar a dor, mas não conseguimos sucesso”, disse a médica.
Segundo a médica, depois do insucesso com a aplicação do antibiótico, a hipertensão da paciente piorou. “Ela começou com cefaléia e a gente acionou a equipe cirúrgica para fazer a cesariana de urgência dela. A paciente tinha várias aderências na barriga, sangramentos, uma paciente grave e de difícil cirurgia”, conta.
Sobre o dreno, a médica explica o motivo da sua colocação. “O dreno foi colocado porque havia muita aderência e sangrava muito. Era um sangramento de fuso. E é perigoso fazer uma alteração de coagulação nesses pacientes. Foram solicitados todos os exames. Foi deixado o dreno, mas diante mão, foi uma cirurgia muito difícil. Se não fosse feita à cirurgia, a paciente teria que ter ido para a UTI, mas graças a Deus, o único problema foi o do dreno”, salienta a médica.
Quanto à retirada do dreno, Ana Patrícia conta que num segundo pós-operatório, a enfermeira não conseguiu mobilizar o dreno. “O dreno já estava aderido, no segundo dia, e eu não fui indelicada. Eu tentei mobilizar uma vez não deu, tentei de novo ele rasgou. Isso acontece. Eu fui, levei a paciente para o centro cirúrgico, não fiz cirurgia, apenas abri a parte subcutânea, procurei o dreno e não encontrei, falei pra ela: não achei, mas a gente vai continuar acompanhando”, disse.
A médica lembra que no terceiro pós-operatório, ao observar que a barriga da paciente apresentava inchaço, ela pediu a realização de um ultrassom de parede. “Ai, neste ultrassom de parede, feita no Hospital, porque a paciente não tinha condições, pelo fato dela ser obesa e pelo fato de o aparelho do Hospital ser antigo, a imagem que apareceu poderia ser a de um hematoma ou do dreno. Ai eu pedi para que ela fizesse o exame na Clínica Goiana”, relata.
Dra. Ana Patrícia também se mostra magoada com a atitude da avó. “A sogra dela me ligou, foi grosseira comigo no telefone, falou que tinha certeza que era o dreno, então ela começou a me tratar mal a partir daí. Sendo que era uma paciente que estava sendo acompanhada. Isso foi no quinto dia de pós-operatório, um dreno pode ficar na barriga da paciente até por 8 dias, sem causar infecção importante”, explicou a médica que disse ainda que posteriormente realizou um procedimento cirúrgico e retirou o pedaço do dreno, que segundo ela, media 2 centímetros.
Sobre a reclamação de ter reduzido o número de médicos plantonistas no Hospital Municipal, a diretora Cristiane Pereira, argumenta que a motivação foi a adequação dos gastos mensais, para poder colocar em funcionamento a USA (Unidade de Saúde Avançada), uma espécie de UTI móvel completa, com todos os equipamentos necessários a atendimentos de alta complexidade, como casos de enfarte e AVC. Esta USA conta também com respirador eletrônico e desfibrilador.
Cristiane conta também que esta mudança faz parte de uma reformulação na gerência do Hospital Municipal e que ela já surtiu efeitos positivos. A diretora apresenta dados que, segundo ela, mostram que mesmo com apenas um médico no plantão, houve uma queda significativa no número de atendimentos naquela unidade de saúde. “Não é porque a população deixou de adoecer, é porque o atendimento ficou mais ágil”, disse ela.
Será que os usuários já sentiram esta melhora? Ainda há muitas reclamações relacionadas à demora, por horas, no atendimento no Hospital Municipal de São Luís de Montes Belos. Vamos aguardar e acompanhar para ver se estas mudanças vão acontecer mesmo na prática.

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